Da Mesopotâmia para a mesa de bar: conheça um pouco da história da cerveja

A cerveja é uma das bebidas mais populares do mundo. Seus diferentes estilos estão associados a raízes históricas, culturais e geográficas, e até mesmo a temperatura ideal de consumo varia de lugar para lugar. E por falar em temperatura, ela não é importante apenas na hora de garantir o chopinho bem gelado no seu boteco preferido: a temperatura errada durante o processo de fabricação da cerveja pode resultar em litros e litros perdidos – e todos sabemos que desperdiçar cerveja é triste.

Mas para conhecer melhor essa relação, vamos começar entendendo a história da cerveja!

Na Mesopotâmia, cerveja mal feita podia causar a morte do cervejeiro

A cerveja já era conhecida pelos antigos povos da região do crescente fértil, tais como os sumérios, mesopotâmicos e egípcios e sua história remonta, pelo menos, a 6 000 a.C. Não por acaso, é a mesma região onde surge a agricultura.

O famoso Código de Hamurabi, o conjunto de leis escritas mais antigo do mundo (aproximadamente 1 772 a.C.) já dedicava algumas linhas à famosa bebida. O código trazia leis de comercialização, fabricação e consumo da cerveja, estabelecia uma ração diária de cerveja para o povo da Babilônia: 2 litros para os trabalhadores, 3 para os funcionários públicos e 5 para os administradores e o sumo sacerdote. O código também impunha punições severas para os taberneiros que tentassem enganar os seus clientes e condenava à morte os que não respeitavam os critérios de produção indicados.

Na época, a cerveja não era nada semelhante à que consumimos hoje. Registros arqueológicos falam de uma bebida originada de diversas combinações de plantas e aromas, com uso de diferentes quantidades de mel.

Cerveja é coisa de mulher!

Vista desde sua criação como um alimento, a cerveja tem sua origem e descoberta atribuída às mulheres. Mais do que uma criação feminina, a fabricação da cerveja foi por séculos tarefa exclusiva delas. O que inicialmente era visto como um afazer doméstico, rapidamente se tornou uma especialidade muito apreciada – e em pouco tempo a cerveja passou a ser uma bebida feita por mulheres também pelo fato delas conhecerem os segredos das diversas receitas.

Praticamente qualquer açúcar ou alimento que contenha amido pode, naturalmente, sofrer fermentação alcoólica. Assim, bebidas semelhantes à cerveja foram inventadas de forma independente em diversas sociedades em redor do mundo. Um poema sumeriano de 3900 anos homenageando a deusa dos cervejeiros, Ninkasi, contém a mais antiga receita que sobreviveu, descrevendo a produção de cerveja de cevada utilizando pão.

O pão líquido e a Lei da Pureza

Durante a Idade Média que se estendeu até o século XVI, a cerveja teve sua grande ascensão. Os principais responsáveis por essa expansão foram os monges, que levaram a produção de cerveja para dentro dos mosteiros. Estes funcionavam como hotéis para viajantes, e a cerveja era produzida e servida internamente aos hóspedes.

Além dessa finalidade, a cerveja também era produzida para os períodos de jejum dos monges: somente o consumo de líquidos era permitido durante esse período e, nesse caso, a cerveja funcionava como alimento para os religiosos – afinal, cerveja é pão líquido!

Muitas ervas eram empregadas na fabricação das cervejas dos monges, tais como louro, sálvia, gengibre e o famoso lúpulo, utilizado até hoje e introduzido no processo de fabricação da cerveja entre os anos 700 e 800 d.C.

Em 1516 a Alemanha implantou a Reinheitsgebot, famosa Lei da Pureza, que determinava que os únicos insumos permitidos para a fabricação de cerveja seriam malte, lúpulo e água. Com a descoberta do fermento e de sua função no final da década de 1860 por Louis Pasteur, a lei teve que ser alterada.

Ales e Lagers

Até o século XVI, todas as cervejas consumidas no mundo eram de tipo ale – de alta fermentação em temperaturas entre 18° C e 25° C. Até esse período, a cerveja era tradicionalmente fermentada com leveduras selvagens, presentes na atmosfera, e que produzem naturalmente álcool a partir do momento em que entram em contato com o açúcar.

As lagers – cervejas de baixa fermentação, com temperatura entre 5°C e 14°C – foram descobertas por acidente no século XVI, quando a cerveja era estocada em frias cavernas por longos períodos; desde então, elas ultrapassaram (e muito) as cervejas tipo ale em volume de vendas e consumo.

Com o passar do tempo e a chegada da Era Moderna, as descobertas tecnológicas propiciaram uma grande evolução na produção cervejeira. O desenvolvimento da máquina a vapor em 1700, do termômetro em 1742 e, principalmente, da refrigeração artificial em 1859, por Carl Von Linde, revolucionaram os estilos de cervejas produzidos até então. A produção artificial de frio proporcionou a fabricação e expansão de produções esporádicas somente durante o inverno, quando a temperatura ambiente era mais baixa.

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